A Cultura Italiana detém uma importante contribuição para Petrópolis, através da arquitetura, com figuras como a de Antônio Jannuzi e Luigi Fossati, por exemplo, que foram responsáveis por belíssimas construções espelhadas pelo Centro Histórico.

Arquiteto Antônio Jannuzzi

Projetista e construtor italiano nascido em Fuscaldo, na Calábria, Itália em 18-06-1855. Seu pai, Fioravante Jannuzzi, habilidoso Mestre de Obras, percebeu a vocação do filho, e o colocou sob as orientações do famoso Arquiteto Battista Santoro. O jovem Antônio, antes mesmo de completar 17 anos, confiante em seu talento e apoiado por seu pai, decide emigrar para o Uruguai em companhia do irmão Giuseppe e dos tios Ignazio e Giuseppe De Setta. Em 1874, insatisfeito com as perspectivas em Montevideo, resolve vir para o Rio de Janeiro, onde foi recebido pelo Engenheiro Januário Cândido de Oliveira. No ano seguinte, 1875, de Mestre de Obras torna-se Empreiteiro. E suas construções, pela beleza e imponência dos desenhos baseados na Arquitetura Italiana, passam a merecer inúmeros contratos, permitindo-lhe fundar a empresa Antônio Jannuzzi, Irmão & Cia.

A primeira grande obra no currículo dos irmãos Jannuzzi no Brasil foi a construção do plano inclinado para a Ferrovia Funicular de Santa Teresa, inaugurado em 1877 e que ligava o Largo dos Guimarães à atual Rua Riachuelo. A Antônio Jannuzzi, Irmão & Cia. tinha como principais colaboradores, os irmãos, e funcionava de forma hierárquica com Antônio no cargo de diretor geral. O escritório realizou um grande número de obras de diferentes finalidades, como: igrejas, hospitais, fábricas, hotéis e residências.

A Companhia Jannuzzi teve grande participação na abertura da Avenida Central, no Rio, em 1904, sendo responsável pela demolição das antigas construções e por diversos projetos dos novos edifícios. Participou ainda da Companhia Evoneas Fluminense, na década de 1890, criada para a exploração da concessão dada a Américo de Castro para a construção de casas operárias. Como diretor técnico da Companhia também participou da produção de casas para classe média. A Companhia teve a concessão cancelada em 1892 resultando em prejuízo à firma Jannuzzi, Irmão & Cia.

Mesmo assim, por filosofia de vida, de trabalho e posição política a Companhia continuou com a produção de casas operárias e nos anos seguintes com a exposição de projetos desse tipo no Club de Engenharia, por meio da Associação dos Construtores Civis, onde atuou como presidente durante os anos de 1919 a 1928. Em 1898 a firma de Jannuzzi foi premiada na Itália com a medalha de ouro na seção Ítalo- Brasileira da Exposição Geral de Turim. Também ganhou em 1906 o Diploma de Honra na seção “Italianos no estrangeiro”, da Exposição Internacional de Milão. Na publicação “Il Brasile e gli Italiani”, de 1906, teve os seus principais projetos fotografados e listados. 

A atuação de Antônio Jannuzzi se concentrava nas cidades do Rio de Janeiro, Petrópolis e em Valença, onde construiu também uma moradia. A Companhia da família, teve o nome alterado em 1907 para Antônio Jannuzzi, Filhos & Cia., continuando sua caminhada de sucesso. Jannuzzi faleceu em 23 de junho de 1949, com mais de noventa anos, em Santa Teresa, em uma casa construída por ele no Rio de Janeiro, sendo sepultado no Cemitério de São Francisco Xavier, no Caju, em um imponente mausoléu. 

Algumas obras da Companhia Jannuzzi em Petrópolis:

Palácio Sergio Fadel - Atual Prefeitura de Petrópolis

Uma das mais antigas edificações da Avenida. Foi construída por Joaquim Antônio d’Araújo e Silva, o Visconde Silva, em 1872. Em maio de 1903 foi arrematada em leilão público pelo empresário carioca Cândido Gafreé. Quatro anos mais tarde foi vendida a Eduardo Guinle. Consta desta época, 1907, sua primeira descrição registrada em cartório. Em janeiro de 1934, o imóvel foi vendido para a sociedade civil Instituto Social São José de Petrópolis, que ali permaneceria durante anos. De 1973 a 1984, pertenceu a Eduardo Antônio Simão, quando foi comprada para servir de sede administrativa da Companhia Industrial Santa Matilde. Em 1994, a Prefeitura de Petrópolis adquiriu o imóvel em leilão público. Desde 1995 se transformou na sede do Poder Executivo.

O Dr. Joaquim Antônio d’Araújo e Silva, era médico pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, formado em 1849, tendo dirigido o Hospício D. Pedro II e o Instituto Nacional de Oftalmologia. Em Petrópolis, presidiu a Sociedade Mantenedora do Hospital Santa Teresa.

Em 1872, requeria à Câmara Municipal que fosse marcado o alinhamento do terreno que comprara para a casa que pretendia construir na Rua Dom Afonso (hoje Av. Koeler).

Ainda no início do século passado, o Presidente Campos Sales ali se hospedou e teve a ideia de adquirir o Palacete do Barão do Rio Negro (do outro lado da rua) para transformá-lo em residência de verão dos Presidentes da República.

Palácio Rio Negro - pertencente a Manoel Gomes de Carvalho, o Barão do Rio Negro

Foto: Bruno Soares

Construído em 1889 para ser a residência do Barão do Rio Negro, rico comerciante de café, foi incorporado pelo Governo Federal em 1903.

A partir da gestão de Rodrigues Alves, o edifício passou a ser a residência oficial de verão dos Presidentes da República em Petrópolis. Desde então, recebeu dezesseis de nossos presidentes, entre eles Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Wenceslau Brás, Epitácio Pessoa, Artur Bernardes, Washington Luiz, Getúlio Vargas, Eurico Gaspar Dutra, Café Filho, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Costa e Silva.  O último deles o Presidente Luís Inácio Lula da Silva, em setembro de 2008.

Palácio Itaboraí - construído para ser a moradia de Jannuzzi na Serra.

Construído em 1892, a edificação possui dois pavimentos, sendo o superior de pé-direito alto, e o inferior – onde provavelmente localizavam-se as áreas de serviço da casa – mais baixo. Destacam-se as fachadas com elementos ornamentais de inspiração clássica, como as colunas das varandas. Duas imponentes escadas em mármore – uma na fachada principal e outra na posterior – conduzem os visitantes para os salões principais da casa. 

Mais tarde, abrigou o Colégio Americano e a primeira Faculdade de Direito de Petrópolis.

. Os terrenos laterais do palácio, com as construções existentes, foram incorporados em 1938 e em 1944, pelo governo do estado do Rio de Janeiro, quando o prédio foi adquirido para ser usado como residência de verão dos governadores. Em 1982, o palácio foi tombado pelo Iphan e pela Prefeitura de Petrópolis. A Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz, recebeu em cessão de uso o Palácio Itaboraí, em termo assinado com o governo do Estado, publicado no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro de 21 de Dezembro de 1998, com a finalidade de abrigar encontros de estudos, pesquisas e para formulação e definição de políticas, além de conferências avançadas, nos campos da Saúde Pública e da Pesquisa Médica e para a realização de cursos, exposições, concertos e outros eventos sociais abertos à comunidade petropolitana.

 

O acervo arquitetônico de Petrópolis, em boa parte, é prova cabal de que o período da Belle Époque em nossa cidade, que ainda tem muitos exemplares remanescentes, sem a participação e contribuição dos arquitetos italianos não teria a riqueza e a beleza que até hoje testemunhamos.

Arquiteto Antônio Jannuzzi

Foto: emanuelnunessilva.blogspot.com

O arquiteto italiano, naturalizado brasileiro, Luigi Fossati, desenvolveu muitos projetos, em sua trajetória profissional e muitas de suas obras estão inseridas na história do Estado do Rio de Janeiro. Nasceu em Mantova, província de Mantova, na Lombardia, centro norte da Itália, no dia 7 de setembro de 1894, filho de Palmira e de Giuseppe Fossati.

Foi diplomado em engenharia e arquitetura em 1920, em Milão, pela Real Academia de Belas Artes de Brera e Real Liceu Artístico de Milão. Veio para o Brasil em 1926, com 30 anos de idade. 

Fixou-se em São Paulo, onde participou da construção do Edifício Martinelli, na época, o maior arranha-céu da América Latina. Muda-se para o Rio de Janeiro, com sua esposa Bianca e a filha Laura época em que conheceu o empresário Joaquim Rolla. Em maio de 1935, recebeu a Carteira Profissional, oficializando a sua atividade profissional no Brasil.

Do Rio de Janeiro se transfere para a cidade de Niterói onde contribui para a história da cidade, como autor de dois projetos de arquitetura: do Trampolim da Praia de Icaraí (1936-37) e o Prédio do Cassino Icaraí (1939), construções que marcaram a vida da cidade de Niterói. Luiz Fossati se transfere para o bairro da Urca, no Rio, contratado como arquiteto por duas firmas.

Na década de 40 se mudou para Petrópolis, com a família para desenvolver e acompanhar de perto as obras do que viria a ser a “cidade do jogo”, o Hotel Cassino Quitandinha. Foi, esse, talvez, um de seus maiores desafios de projeto de arquitetura junto a Rolla.  Em 1942, o Brasil deixou a neutralidade com a guerra do eixo alemão e italiano e se declarou contra Hitler e Mussolini, portanto fazendo dos italianos inimigos do país, sendo obrigados a usar salvo-conduto para se locomoverem. Com a influência de Joaquim Rolla, Fossati conseguiu um salvo-conduto do Estado Novo para continuar trabalhando aqui, até entrar com um pedido de naturalização para ele, sua mulher e sua filha.

Fossati valeu-se de sua farta criatividade e conhecimento tecnológico nas construções, demonstrando sua capacidade e visão de futuro.  Em 1948 Fossati fica viúvo e, mais tarde, casa-se com Zenaide. Sua única filha, Laura, casou-se com Armando Balteiro, dando-lhe três netos: o mais velho, Luis Armando, o do meio Carlos Eduardo, e a caçula, Ana Maria. E apenas um bisneto, de nome Armando.

Mais tarde, Fossati acabou se aposentando dos projetos arquitetônicos, desgostoso com a arquitetura e a política mas continuou produzindo,  fundando a Escola de Artes Santa Rita, no centro de Petrópolis, lançando uma linha de azulejos decorativos que virou moda na cidade. O sucesso acabou comprometendo o prazer obtido com o trabalho e com o tempo, o arquiteto preferiu suspender a atividade comercial, transformando-a em lazer, produzindo cerâmica em sua própria casa. Na companhia da esposa dedicou-se a viajar nos últimos anos de sua vida. O arquiteto Luiz Fossati morreu em 1974, aos 80 anos, a bordo de um navio, quando voltava de uma de suas viagens à Itália, ao lado de Zenaide.

No Centro Histórico da cidade surgiu o Edifício Imperador, com dez andares, lojas no térreo, galerias e sobrelojas, o edifício foi construído com o intuito de acolher parte dos visitantes que o Cassino Quitandinha atrairia. O Edifício Imperador foi projetado para ser o primeiro apart-hotel do Brasil, disponibilizando um casal de camareiros para cada andar. Todos os andares possuíam vão para monta-prato e, no térreo, funcionavam lojas comerciais. Luiz Fossati projetou e construiu para o próprio Joaquim Rolla, uma casa em Petrópolis em estilo normando, inspirada pelo Quitandinha, muito utilizada para festas e comemorações que o empresário oferecia aos seus amigos e conhecidos. Fossati também construiu uma casa, presente de Rolla para Benjamim Vargas, irmão do presidente Getúlio Vargas. Desenvolveu e construiu, a pedido do empresário Rolla, casas nos terrenos do Condomínio Quitandinha, nas dependências da área do Complexo do Palácio Quitandinha. Uma dessas casas abrigou sua família.

 Em 1939, Joaquim Rolla comprou os terrenos da antiga fazenda Quitandinha, para ali construir o seu cassino. Este empreendimento, destinado a ser o maior cassino da América do Sul, teve a construção iniciada em 1940, sendo projetado por Fossati e o brasileiro Alfredo Baeta Neves. O prédio refletia a história pessoal de Joaquim Rolla, mineiro do interior que, fez fortuna com a construção de estradas e, passou a dominar o jogo no Brasil, vindo a ser o proprietário da maior rede de cassinos da América Latina durante o Estado Novo.

Construção do Palácio Quitandinha

Desde a inauguração do Quitandinha, em 1944, por ali passaram vários mitos do cinema americano, vários políticos da época, nobres e reis europeus, milionários, jovens da classe alta, atrizes e vedetes, jogadores inveterados, amadores, misses, magnatas brasileiros e estrangeiros. Possuía estilo normando, característico dos cassinos europeus antes da Segunda Guerra Mundial. Os ambientes internos foram detalhadamente decorados pela americana Dorothy Draper, a mesma que assinava cenários de filmes na década de 40. Com a proibição do jogo, em 1946, o Quitandinha entrou em decadência. Foi clube, local de eventos e conferências, e teve seus apartamentos vendidos a particulares formando um condomínio. Em 2007, comprado pelo SESC RJ, foi restaurado e reaberto para visitação, voltando a ser um dos principais atrativos turísticos de Petrópolis

Foto: Bruno Soares

Fontes:

A mística do parentesco. História de Antônio Jannuzzi. Disponível em: <https://parentesco.com.br/index.php?apg=pessoa&idp=32076&c_palavra=&ver=por#>. Acesso em 20 mar 2021.

AUGUSTO, Paulo. O Album: Publica-se todas as semanas em dias indeterminados (RJ). Agosto de 1893. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/706841/293>. Acesso em 20 de mar 2021.

GRIECO, Bettina Zellner. A arquitetura residencial de Antonio Jannuzzi Ideias e Realizações. Dissertação (Mestrado em Arquitetura). Rio de Janeiro: UFRJ, 2005.

Il Brasile e gli Italiani. 1906. Disponível em: <https://archive.org/details/ICIB_il_brasili_e_gli_italiani_tiff>. Acesso em 09 de mar 2021.

https://marcosfleury.wordpress.com

Fórum Itaboraí: https://forumitaborai.fiocruz.br/node/8